sábado, 5 de novembro de 2022

Torquato Tristeza Teresina

Nem bem se passaram quatro meses que o poeta triste deixara Teresina, soubemos do seu suicídio depois de comemorar o aniversário de 28 anos. Os amigos, nos juntamos para lamentar a perda num rompante bem-sucedido do seu comportamento perto da morte, que conhecíamos. Mas o que era possível, quando acontece é desesperador. Não o veríamos mais e a nossa dor era imensa. Sofremos com a perda de Torquato.

No outro dia, o poeta chegou morto em seu esquife, como nomeou a imprensa local, e não era mais o nosso amigo. Não era aquele com quem bebíamos nos bares, caminhávamos nas ruas, escrevíamos em jornais ou fazíamos cinema sob os olhares reprovadores da cidade, meses atrás, quando era ainda tão vivo e ignorado na cidade. O morto que chegava era um compositor famoso, adorado por todos que foram ao aeroporto receber o poeta sob o calor de 40 graus e desfilar em carreata pelas ruas da cidade até a casa dos pais em velório obsequioso. O enterro, no cemitério São José, um dos mais concorridos.

Não fui ao velório, nem ao enterro. Aquele já não era o Torquato Neto que conheci, mas um poeta famoso, que se tornaria nome de rua, de conjunto habitacional, de salas culturais, mas de quem ninguém conhece a obra. Um outro Torquato, cultuado por uma cidade que não gostava dele. Um bom poeta precisa morrer para que gostem dele. Nem precisa da obra.

Edmar  Oliveira


O livro TORQUATO TRISTEZA TERESINA faz parte da coleção 

"Livrinho também é livro".

 

Link para download do e-book abaixo:

TORQUATO TRISTEZA TERESINA