terça-feira, 6 de maio de 2025

Inteligência & Caos - um ensaio sobre Max Bense e Rogério Duarte

  Desde o seu surgimento, no final dos anos 1960, o movimento tropicalista tem sido alvo de diversas abordagens. A maioria delas, focada no tropicalismo musical, busca evidenciar as contraposições envolvendo a Jovem Guarda, a canção de protesto e a própria bossa nova. Nesse caldeirão, comandado por Caetano Veloso e Gilberto Gil, outra face importantíssima muitas vezes fica de fora: a Tropicália, como o conjunto de artistas que desenvolvia uma revolução própria nos mais diversos campos da produção cultural brasileira.

Baiano de Ubaíra, Rogério Duarte foi o responsável pela criação de grande parte da identidade visual do projeto tropicalista. Por vezes relegado a coadjuvante, era uma figura seminal para o desenvolvimento da Tropicália. O livro que você tem em mãos é o resultado de uma pesquisa que preza pela minúcia e pela paixão por esse tropicalista, também conhecido como Rogério Caos. Mas não só ele. Fernanda Lemos foi capaz de conjugar o pensamento do designer baiano com o de um alemão, seu professor por um breve período, para entender de que maneira as convulsões do Brasil dos anos 1960 adquiriram formas incontornáveis no desenvolvimento de um pensamento efetivamente brasileiro, ou melhor, tropical.

Max Bense era um teórico multidisciplinar – trabalhou como químico na Bayer e estudou, além de química, física, matemática, mineralogia, geologia e filosofia –, mas foi o contato com a poesia concreta que o levou a se interessar pelo Brasil, visitando-o quatro vezes entre 1961 e 1964. Seu entusiasmo pelo país, o conduziu à escrita de um livro, Inteligência brasileira – uma reflexão cartesiana, de 1965, que tentou dar conta de pensar uma nação que se desenvolvia na vanguarda estética do mundo: enquanto Brasília era o triunfo da arquitetura moderna no país, Guimarães Rosa refundava a língua portuguesa. 

    Embora desconhecida do público em geral, a união de Max Bense e Rogério Duarte não causa espanto: seus pensamentos estiveram mais aparentes do que muitos foram capazes de supor e é esse o duplo trabalho que Fernanda Lemos apresenta neste livro. Se por um lado disseca ambos, indo e voltando no tempo para traçar um panorama de suas vidas e obras, por outro há o esforço de trazer uma nova mirada sobre o Brasil dos anos 1960. Aquela geração única, cujas produções ainda pautam o debate público, surge aqui numa escrita límpida, que recupera o que tanto Bense quanto Rogério pensavam: um país. Boa leitura!

Mateus Baldi

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