- Regressão democrática e teoria política;
- O Brasil na encruzilhada: visões da crise política.
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A democracia liberal, que nos
anos 1990 foi proclamada como triunfante entre todos os regimes de governo,
atravessa severa crise, que põe em xeque não apenas as suas formas, mas seus
fundamentos, e desta vez, sem que o problema esteja associado a deficiências
das chamadas republiquetas, pois a crise também atinge democracias ditas
consolidadas. Crises não são novidades na trajetória das democracias e, talvez,
sejam até o seu estado natural em face das críticas à esquerda e à direita que historicamente
lhe são dirigidas, sob acusação de formalismo sem conteúdo social ou como onerosa
e ingovernável devido aos incessantes direitos. A singularidade atual reside em
desconstrução interna, associada a um casamento e um divórcio: casamento com o
neoliberalismo, que pra além da face econômica, se expressa como subjetividade
e concepção de mundo, e divórcio com os valores políticos liberais.
Neoliberalismo objetivado na
competição, na insolidariedade e no simulacro do mérito como alternativa aos
direitos; que desresponsabiliza o poder público com o bem estar social e
atribui aos indivíduos essa realização. Ruptura com os valores políticos do
liberalismo pela negação do Estado democrático de direitos, materializada em
poder monocrático, manipulação das regras do jogo, tentativas de eliminar os
freios e contrapesos entre os poderes, culto da violência e apelos ao
irracional, tudo customizado nos moldes de uma “guerra cultural”.
O Brasil, sempre tomado como
periférico, assumiu papel central nesse processo de desconstrução democrática,
pela brutalidade do populismo reacionário aqui instalado, com a ascensão
de Jair Bolsonaro à presidência da república em 2018, sob o signo de
desconstruir em 4 anos os quase 40 da Constituição chamada de cidadã. Surfando
na onda internacional de ascensão da extrema direita, o desmonte aqui também se
deu de dentro pra fora; não descuidou da tradicional violência e interdição
contra qualquer ameaça de ativismo ou organização social, claro, mas empreendeu
inédita degradação institucional e instrumentalização de redes de ódios e
irracionalismos, ao tempo em que mobiliza apoios para uma indisfarçada ruptura
democrática.
Crise da democracia – dois
ensaios, do historiador e cientista político Flávio Reis, traz, à luz da
literatura recente, uma abordagem profunda e certeira sobre esses destroços, desafios
e os cenários ainda em aberto.
Arleth Borges
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