sexta-feira, 15 de novembro de 2024

A TRANSGRESSÃO ROMÂNTICA DE JUNERLEI

Flávio Reis

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Na vida nos deparamos, em certas situações, com o imponderável. Ele se estabelece e... pronto! Temos de conviver com o ocorrido, encontrar uma maneira de dar sentido, perceber sinais, projetar anseios, nos debatendo ante o inesperado. É o que ocorreu na terça-feira, 12 de novembro, no Centro de Ciências Sociais da UFMA, com a morte do professor Junerlei Dias de Moraes Salleti, no prédio onde lecionava há mais de 30 anos no curso de Comunicação Social. 

Buscar palavras aqui é apenas uma tentativa de diminuir o nó que aperta a garganta, percorrer os caminhos sempre insuficientes da escrita para expressar esse espanto. Mas guarda também um traço de saudação, de agradecimento pelo que se compartilhou, da vida que se viveu, da falta que fará.

Junerlei era um professor singular, desses que existiam na universidade, aqui e ali, sempre bastante minoritários, mas hoje já em total extinção. A principal característica destes tipos era uma curiosidade aguçada, a voracidade da leitura ampla e variada. Junerlei aliava a paixão dos livros ao amor igualmente intenso às artes. Sacava de tudo, literatura de várias épocas, poesia, romances, contos, mas também muito cinema (do qual era mesmo um aficionado), teatro, artes visuais. Ao que parece, não era muito de música, pelo menos não com aquela intensidade. Passava de um campo para outro facilmente, numa conversa veloz, abundante, na verdade, transbordante, farta. 

Não fazia o gênero do professor racional, lógico. Em certa medida, era até o contrário disso. Praticava mais a linha da conversação anárquica, da empolgação exagerada, da provocação dita de passagem, sem alarde, e da sátira. Uma estrutura de pensamento fluida, intencionalmente dispersa, mas sempre informada e, ao mesmo tempo, curiosa, aberta a novas percepções. Feixes de observações, informações, lembranças que iam saindo de forma quase inesgotável, as palavras se atropelando.

Olhando agora, lembro do saudoso professor Caldeira, do departamento de Sociologia e Antropologia, que ministrou muitas aulas também no curso de Comunicação, na antiga cadeira de Realidade Sócio-econômica e Política Brasileira, um verdadeiro espaço de vale-tudo intelectual, feito ao arrepio dos programas oficiais. A conversa era vasta, tirando logo o chão doutoral do “especialista”.

São professores que convocam a liberdade e estimulam a criatividade. No fundo, são figuras rebeldes, muitas vezes mal vistas pelos seguidores fiéis da burocracia acadêmica e tidos como “improdutivos” ou até “enrolões”. Não por acaso, costumam ser bem próximos dos estudantes. Em uma palavra, eles se misturavam mesmo era com a moçada, de onde tiravam a seiva para se manter à margem dos cânones estabelecidos, que sempre ridicularizaram. 


Junerlei, à sua maneira, fez parte dessa linhagem. A sua figura nos corredores do CCSo, ou caminhando para a Biblioteca Central, que explorou até quando a visão permitiu, ou no CCH, onde sempre passava, na trilha dos livros, em conversas com os livreiros Armando e Werbeth, ou com quem encontrasse por lá. Quase sempre estava em companhia de estudantes, trocando figurinhas de todo tipo, distribuindo alegria, estimulando a conversa criativa. Era um tímido de comunicação fácil e agradável.

O professor Chico Gonçalves, seu colega de departamento e um de nossos melhores oradores, destacou muito bem, na cerimônia de sepultamento, a marca que Junerlei deixou na formação de muitos profissionais do jornalismo egressos da UFMA, relembrada por ex-alunos nas redes sociais. Ia muito além da sala de aula, estava num livro que foi indicado ou presenteado, num autor sugerido, um filme que mudou a percepção das coisas, ou mesmo num gesto de atenção e carinho. Junerlei era generoso. Nas suas palavras, ele foi um professor que levava os alunos a sonhar. O que não é nada fácil dentro de uma estrutura de funcionamento cada vez mais controladora e efetivamente vazia de criação, sem alegria. Uma coisa meio oca, sem vida pulsante, justamente o que a conversa com Junerlei sempre suscitava.

Ele não se enquadrava nos moldes do professor produtivo, guiado pelo Lattes e envolvido num verdadeiro ranking com seus pares. Trabalhava como quem brinca. Lia rápido e tinha um leque que permitia sugerir conexões que soavam às vezes até absurdas. Mas era acima de tudo a liberdade do pensamento, envolto no lúdico, na brincadeira. Nunca abriu mão de combinar essas coisas.

Agora estamos diante da cena terrível. O corpo continua lá, na sala de aula, espaço onde exerceu sua arte da transgressão, isolada com fitas que indicam uma ocorrência trágica. Seus alunos, os colegas de trabalho, antigos e novos, funcionários da administração, da limpeza e da vigilância, a vendedora de lanches, todos atônitos. Amanhã, o dia reinicia, a vida e seus compromissos nos chamam de volta, a roda do mundo continua seu giro, como se simplesmente prosseguisse. Mas tudo é apenas a superfície, no fundo, sabemos que algo se partiu, foi interrompido. 

Não teremos mais o sorriso largo de Junerlei, a fala intensa, com um sotaque levemente estranho, pois “soy argentino”, os óculos fundo de garrafa, outra de suas características marcantes, a respiração ligeiramente ofegante, ansiosa. Como disse sua amada Wilne, era pura intensidade. Nos últimos anos, sofria cada vez mais de problemas na visão, uma doença rara, de nome complicado, que nunca entendi direito, sempre piorando, não obstante as várias consultas com especialistas. Acho que por conta disso, num certo momento passou por um quadro de depressão.

Com o tempo, a piora da visão foi minando um pouco da sua alegria. As aulas foram se tornando um peso. Sonhava intensamente com a aposentadoria, enquanto a universidade tomava seu caminho decidido no rumo da organização empresarial, regida por critérios quantitativos, no rolo compressor da bestialização titulada e arrogante, que é hoje a nossa realidade. Em contraposição radical a isso tudo, Junerlei era de uma simplicidade quase infantil, destituído de vaidade intelectual. Não posava de sabido, brincava com os falsos sabichões. Com o agravamento da doença, agudizou-se a insatisfação com a universidade, que consumiu suas forças, absolutamente impávida ante seu sofrimento. 

Junerlei morto na sala de aula do CCSo é um desfecho trágico a essa existência alegre e luminosa. No fundo, foi sugado numa máquina uniformizadora cada vez mais eficiente em impedir a criatividade e a alegria. Houve um tempo, não muito distante, que a universidade era espaço de invenção e resistência, de trocas e sonhos. Hoje, é um lugar esvaziado, vivendo em agonizante desertificação, perdida entre a fantasia farsesca da competência e o pesadelo real da diluição no mercado. Nela não há mais espaço para figuras como Junerlei, um rebelde desconcertante que ia decidido para a briga empunhando uma flor. Tempos difíceis, de espanto e dor, no ano em que perdemos, em condições similares, outro professor da mesma linhagem, Antonio José, do departamento de Filosofia. Os que ficamos, seguimos carregando nossos mortos, suas lembranças e lutas. 

sexta-feira, 10 de maio de 2024

Cartas de um Professor em Greve

 

Uma Carta-Manifesto violenta e necessária, apontando o abismo em que se encontram a Cultura e a Educação, movidas cada vez mais pela mercantilização crescente de suas atividades. Um alerta para o momento crucial atual, em que os agentes não parecem se dar conta do esvaziamento dos significados de suas ações. 

Soa o alarme de perigo da esterilização total da Cultura e do sufocamento final da Universidade Pública. Restará em seus lugares, a espetacularização estridente e vazia, o fake tornado realidade incontestável e catalogado no altar das mercadorias. O “boizinho de butique” (Celso Borges) e as “universidades de esquina” são faces da mesma moeda da corrosão de nossas potencialidades não realizadas.

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Cartas de um Professor em Greve

quinta-feira, 28 de março de 2024

Bom Jesus dos Navegantes - Irmandade e Capela

 Em mais uma incursão no universo da religiosidade católica em São Luís, após o livro sobre a Paróquia de Nossa Senhora dos Remédios, publicado em 2022, a professora Maria de Lourdes Lauande Lacroix nos apresenta uma preciosa pesquisa sobre a Irmandade do Bom Jesus dos Navegantes e sua Capela, anexada à Igreja de Santo Antônio. Uma irmandade leiga, voltada para os festejos da Quaresma e as procissões da Paixão de Jesus Cristo. 

Trabalho delicado, de remontar aspectos da história desta instituição, seus integrantes e a dinâmica de funcionamento, suas finanças, aquisições e realizações, além de propiciar um verdadeiro tour pela arquitetura da Capela, os diferentes espaços e imagens sagradas. Tudo realizado através de paciente pesquisa, utilizando documentação esparsa, basicamente as atas da diretoria ainda existentes, ofícios e livros contábeis, aliado a notícias da imprensa local sobre as procissões e atividades desenvolvidas pela Irmandade e alguns relatos memorialísticos.

Desfazendo equívocos comuns, como a identificação entre a antiga Capela de Santa Margarida e a Capela do Bom Jesus dos Navegantes, a pesquisa consegue acompanhar a história desta irmandade católica centenária, apesar das lacunas importantes na documentação consultada, recuperando tempos em que as procissões organizadas pelas irmandades eram acontecimentos destacados na cidade, cerimônias não-litúrgicas com cenas comoventes e grande assistência de público. 

Hoje, as procissões perderam relevo e importância, mas a antiga Irmandade dos Navegantes ainda mantém a tradição da Procissão da Fugida, na quinta-feira, e a do Encontro, na sexta-feira santa. No domingo de Páscoa, a Missa da Ressureição, com a elevação da imagem do Cristo Ressuscitado, invenção única dos tempos do incansável Augusto Aranha Medeiros, o grande guardião da Capela. Um registro feito a partir de documentos e referências guardadas zelosamente por Nizeth Medeiros, sua filha e sucessora.    

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sexta-feira, 16 de fevereiro de 2024

Literatura e Performance

Uma visão insólita da nossa República das Letras no início do século XX e uma visita ao experimental dos anos 70 formam o largo espectro deste Literatura & Performance. Através de pesquisa em jornais da época, Isis Rost vai à pré-história do modernismo oswaldiano, remontando o caso da sua fixação na bailarina Carmen Lydia, uma menina que o fascinou durante anos, e o encontro explosivo e trágico com a normalista Maria de Lourdes, a Miss Cyclone, personagem múltipla, farol luminoso do diário coletivo intitulado O Perfeito Cozinheiro das Almas Deste Mundo, desenvolvido na primeira garçonnière, localizada na rua Líbero Badaró, entre maio e setembro de 1918. Traços iniciais do ato antropofágico que desabrocharia na década seguinte. 

Da província que alçava o voo do modernismo, para São Luís do Maranhão, capital de antiga província já abatida no sonho efêmero de pujança vivido no início do século XIX e mergulhada na construção fantasmagórica de uma identidade ilustre. Sob a capa da Atenas Brasileira, a realidade crua das marcas da escravidão, do racismo à flor da pele, explode na polêmica envolvendo o germanófilo Antônio Lobo, considerado fundador da Academia Maranhense de Letras, e o intelectual negro Nascimento Moraes, autor de Vencidos e Degenerados, um romance sobre o momento da Abolição e da República em São Luís. A mesma cidade, bela, terrível e mesquinha, inscrita na poética de Nauro Machado, visto aqui numa chave interpretativa além do tradicionalismo em que alguns tentam enquadrar (e resumir) sua obra. 

De volta ao centro, ao mundo da performance e do experimental, em escritos de Antonin Artaud e na literatura de Valêncio Xavier, caracterizada pela apropriação/fusão de textos, imagens, recortes; no “não cinema” de Hélio Oiticica em Agripina é Roma-Manhattan, curta realizado em New York, reverberando Sousândrade de O Inferno de Wall Street, sua genial intuição do novo império; e na arte visceral da cubana exilada Ana Mendieta, arte do corpo feminino, arte efêmera, arte conceitual. Performance, vídeos, instalações, esculturas em rochas, a água, a terra, o fogo, o belo e o grotesco, natureza e sangue, tudo se mistura no furacão visual do texto elaborado em série e disposto em forma de silhuetas, num voo radical sobre a obra da artista desterrada, arremessada à morte. Direto e vibrante, o livro de Isis Rost é viagem surpreendente aos subterrâneos da literatura e das artes no século XX.  


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quinta-feira, 15 de fevereiro de 2024

O Cálice de Kafka

Livro vivo, vivíssimo, bem vivo e bem-vindo. Livro livre e findo, porque só a vida enfrenta a morte. A vida tem fim e o último passo está no compasso de nossa origem. O rufar do Cálice de Kafka nos chega antes da última lufada. Paulo José Cunha, poeta desta grande família piauiense donde veio o mestre Torquato Neto, vai, ao longo deste seu poema – fragmentado em versos leves e certeiros como aquela velha Senhora que nos observa fria e sincera – oferecendo um cardápio de beleza poética curiosa e única.

Todos os trinta e cinco poemas deste Cálice de Kafka são dedicados às aventuras da velha e digníssima Senhora, cuja chegada é certeza em vida... certezíssima.

Um dia ela virá. Por isso, a morte não deve ser encarada morbidamente, mas sim como um ser concreto e cíclico. Pois a finitude é sina, não é opção. Dela não se escapa, a não ser encarando-a com serenidade e firmeza. A saída é a própria saída. Como diria Torquato:

- Um brinde à vida, enquanto a morte está parida!

Tim-tim!

Luís Turiba

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O Cálice de Kafka

domingo, 4 de fevereiro de 2024

Olhares - Regards

 Desde cedo, Eloah demonstrou interesse pelo universo artístico, refletido seja num gosto musical peculiar para a idade, como Beatles ou Cream, ou através das inclinações para a leitura e o desenho. Mesmo quando ainda não havia aprendido a ler, irradiava de felicidades sempre que ganhava um livrinho ou algum caderno novo sem pautas para desenhar.  Não demorou pra descobrir a fotografia, a partir de câmeras de celulares e de máquinas fotográficas que encontrava pelo caminho. Como uma provocação movida por curiosidades, a brincadeira passou a envolver estes elementos, tornando-se cada vez mais séria, na medida em que os anos passavam e o entrosamento com as artes se fortalecia. 

Há sete anos, Eloah saiu do Brasil e foi morar na França com Karen, minha irmã e sua mãe. Ainda assim, pude acompanhar seu desenvolvimento em cada desenho, fotografia, impressões enviadas para amenizar a saudade que a distância impunha. Este material foi sendo arquivado por mim, e resultou na montagem de “Olhares”, um livrinho articulado despretensiosamente, como uma surpresa, um presente de aniversário de 13 anos. É dividido em dois blocos: o primeiro reúne vários desenhos, evidenciando a evolução e a sensibilidade dos traços; o segundo bloco são as fotografias, em cliques de cenas variadas.  

Isis Rost 


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terça-feira, 9 de janeiro de 2024

Crônicas de um Piauinauta

 UM SÉCULO QUE NÃO COMEÇOU


Neste livro lemos minicrônicas discorrendo e escritas, quase sempre, em cima de acontecimento recente. Com a publicação agora, essa distância ganha um significado surpreendente. São relembrados acontecimentos importantes, que foram esquecidos por falta de espaço nas nossas memórias, atacadas por bordoadas de informações da modernidade digital. E, muitas delas, com relevância para a espiral da História, mesmo que, no momento em que foram escritas, parecessem não ter qualquer ligação. As impressões da realidade prenunciavam o vulcão da idiotia nacional, que logo aconteceria. Como se o século anterior tivesse aprisionado a espiral da História, o que só se percebe agora, numa leitura com distanciamento.
Este é um século que ainda não começou, apesar do avanço tecnológico. Prisioneiros do século XX, 1964 retorna e nos surpreende, com uma farsa que, felizmente, não se afirmou. Mas será que nos livramos dele, quando a extrema-direita ousou aparecer sem vergonha em todo o planeta?

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domingo, 24 de dezembro de 2023

A TRADIÇÃO ATENIENSE E SEUS SABUJOS



- Flávio Reis

Há pouco mais de duas décadas, em 2001, um pequeno livro causava um rebuliço na historiografia maranhense, A Fundação Francesa de São Luís e Seus Mitos, da professora Maria de Lourdes Lauande Lacroix. Nos anos seguintes, um intenso debate tomou corpo através dos jornais, principalmente no Caderno Alternativo, de O Estado do Maranhão. Livro provocante, de escrita enxuta e direta, trazia uma percepção diferente para uma questão que, de maneira descontínua, perpassou a memória da cidade no século XX: a fundação francesa de São Luís. O debate se arrastou por quase uma década e se ouviu todo tipo de simplismo e sandice para afirmar aquilo que a professora chamou de mito fundador.

Aquele era ainda um tempo em que os debates se faziam pelos jornais. Hoje, com o desenvolvimento da internet e das redes sociais, tudo se modificou muito e os grupos de aplicativos de mensagens são uma forma nova de circulação de ideias e debates. São grupos privados, mas seus integrantes muitas vezes esquecem que não estão numa antiga sala de estar, onde se falava mal dos outros, distorcia a realidade e dava vazão a seus delírios de grandeza pessoal em recintos fechados, o que não impedia os fuxicos e eventuais desavenças. Hoje, nos novos espaços virtuais, as declarações e mensagens ficam gravadas e circulam para além do grupo. É neste contexto que novas sandices são propaladas de forma totalmente agressiva e irresponsável, ditas sem nenhuma base histórica.

É o que ocorreu recentemente num grupo voltado para discussões sobre a cidade de São Luís, onde o sr. Antonio Norberto, que deve se considerar um pesquisador e grande estudioso em defesa das tradições e glória da Atenas Brasileira, saiu com essa pérola do desvario e da torpeza, que transcrevo:

PARA LER O TEXTO COMPLETO, CLIQUE AQUI



terça-feira, 15 de agosto de 2023

Arquivo NAVILOUCA


 NAVILOUCA, a revista-valise do início dos anos 70, delírio torquateano/walyano, ponto de encontro entre concretos, neoconcretos, tropicalistas, marginais. Este Arquivo recupera as notícias em torno da publicação, anúncios, adiamentos, expectativas, lançamento e reúne um desfile de memórias e lembranças variadas, ensaios, comentários, poesias, tendo a revista como foco, tudo imerso em cores e imagens, num projeto gráfico igualmente delirante.           

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Arquivo NAVILOUCA

segunda-feira, 3 de julho de 2023

Carver


 O encontro dos poetas Celso Borges e Fernando Abreu com a poesia de Raymond Carver, no ano passado, foi festejado da forma mais apropriada possível: cada um escreveu um poema abordando o impacto do encontro. Ao lado de um poema do próprio Carver, os textos resultaram no livreto que leva apenas o nome do autor estadunidense (Carver, Ed. Passagens, 2023) e que terá lançamento nesta quarta-feira (07) no evento “Carver & UNS”, que reúne música e leitura de poesia (ver serviço).

Considerado o Tchekov do século XX, pela sua maestria na arte do conto curto, o estadunidense do Oregon Raymond Carver foi limpador de banheiros, garçom, frentista e vendedor de carros e medicamentos antes de se transformar em escritor consagrado pela crítica.

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Carver




terça-feira, 27 de junho de 2023

Crise da Democracia

Dois ensaios de Flávio Reis sobre a crise atual da democracia e a ascenção do populismo reacionário.

        - Regressão democrática e teoria política;

        - O Brasil na encruzilhada: visões da crise política. 

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    A democracia liberal, que nos anos 1990 foi proclamada como triunfante entre todos os regimes de governo, atravessa severa crise, que põe em xeque não apenas as suas formas, mas seus fundamentos, e desta vez, sem que o problema esteja associado a deficiências das chamadas republiquetas, pois a crise também atinge democracias ditas consolidadas. Crises não são novidades na trajetória das democracias e, talvez, sejam até o seu estado natural em face das críticas à esquerda e à direita que historicamente lhe são dirigidas, sob acusação de formalismo sem conteúdo social ou como onerosa e ingovernável devido aos incessantes direitos. A singularidade atual reside em desconstrução interna, associada a um casamento e um divórcio: casamento com o neoliberalismo, que pra além da face econômica, se expressa como subjetividade e concepção de mundo, e divórcio com os valores políticos liberais.

    Neoliberalismo objetivado na competição, na insolidariedade e no simulacro do mérito como alternativa aos direitos; que desresponsabiliza o poder público com o bem estar social e atribui aos indivíduos essa realização. Ruptura com os valores políticos do liberalismo pela negação do Estado democrático de direitos, materializada em poder monocrático, manipulação das regras do jogo, tentativas de eliminar os freios e contrapesos entre os poderes, culto da violência e apelos ao irracional, tudo customizado nos moldes de uma “guerra cultural”.

    O Brasil, sempre tomado como periférico, assumiu papel central nesse processo de desconstrução democrática, pela brutalidade do populismo reacionário aqui instalado, com a ascensão de Jair Bolsonaro à presidência da república em 2018, sob o signo de desconstruir em 4 anos os quase 40 da Constituição chamada de cidadã. Surfando na onda internacional de ascensão da extrema direita, o desmonte aqui também se deu de dentro pra fora; não descuidou da tradicional violência e interdição contra qualquer ameaça de ativismo ou organização social, claro, mas empreendeu inédita degradação institucional e instrumentalização de redes de ódios e irracionalismos, ao tempo em que mobiliza apoios para uma indisfarçada ruptura democrática.

    Crise da democracia – dois ensaios, do historiador e cientista político Flávio Reis, traz, à luz da literatura recente, uma abordagem profunda e certeira sobre esses destroços, desafios e os cenários ainda em aberto.

Arleth Borges



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CRISE DA DEMOCRACIA



 

sábado, 5 de novembro de 2022

Torquato Tristeza Teresina

Nem bem se passaram quatro meses que o poeta triste deixara Teresina, soubemos do seu suicídio depois de comemorar o aniversário de 28 anos. Os amigos, nos juntamos para lamentar a perda num rompante bem-sucedido do seu comportamento perto da morte, que conhecíamos. Mas o que era possível, quando acontece é desesperador. Não o veríamos mais e a nossa dor era imensa. Sofremos com a perda de Torquato.

No outro dia, o poeta chegou morto em seu esquife, como nomeou a imprensa local, e não era mais o nosso amigo. Não era aquele com quem bebíamos nos bares, caminhávamos nas ruas, escrevíamos em jornais ou fazíamos cinema sob os olhares reprovadores da cidade, meses atrás, quando era ainda tão vivo e ignorado na cidade. O morto que chegava era um compositor famoso, adorado por todos que foram ao aeroporto receber o poeta sob o calor de 40 graus e desfilar em carreata pelas ruas da cidade até a casa dos pais em velório obsequioso. O enterro, no cemitério São José, um dos mais concorridos.

Não fui ao velório, nem ao enterro. Aquele já não era o Torquato Neto que conheci, mas um poeta famoso, que se tornaria nome de rua, de conjunto habitacional, de salas culturais, mas de quem ninguém conhece a obra. Um outro Torquato, cultuado por uma cidade que não gostava dele. Um bom poeta precisa morrer para que gostem dele. Nem precisa da obra.

Edmar  Oliveira


O livro TORQUATO TRISTEZA TERESINA faz parte da coleção 

"Livrinho também é livro".

 

Link para download do e-book abaixo:

TORQUATO TRISTEZA TERESINA


sexta-feira, 4 de fevereiro de 2022

Navilouca ReVista


Idealizada e montada em 1972, ano emblemático de muitas experimentações, a Navilouca só seria impressa em 1974 e logo se tornou verdadeira lenda entre as publicações alternativas do período, oferecendo um painel do que havia de mais radical nas letras, nas artes visuais e no cinema por estas bandas.

Neste ensaio, fruto de dissertação de mestrado (UESPI), Isis Rost apresenta algumas de suas chaves, fazendo um corte transversal no material organizado por Torquato Neto e Waly Salomão e ressaltando duas tríades que marcam toda a linguagem do “almanaque dos aqualoucos”: a concreta, com Augusto, Haroldo  e Décio, e a experimental, núcleo da revista, identificada em Torquato, Waly e Hélio Oiticica.

    Temos aqui a proposta de um encontro direto com as páginas da Navilouca, num texto irreverente e inventivo, cujos capítulos (e mesmo os subtítulos) podem ser lidos de forma independente, compondo um caleidoscópio para saudar os 50 anos deste projeto único, quase delirante, lance final do poeta piauiense que se suicidou naquele intenso ano de 1972. 

Link para download: Navilouca ReVista

domingo, 20 de junho de 2021

Olhos famintos & outros contos

 Olhos famintos & outros contos traz o tom desta época sobrecarregada, esmiuçada pela fome, falta de empatia, variantes de vírus letais e, também, por uma pitadinha de humor e amor, para nos lembrar de sempre agarrar (e manter agarradas) as mãos uns dos outros, nestes dias despedaçadores. O livro é composto por 4 microcontos, todos com a cidade de São Luís do Maranhão como referência. O primeiro, Olhos famintos, nomeia o todo e é apresentado em três versões, acrescentando-se uma em francês e outra em espanhol. A história retrata o cotidiano dolorido, emoldurado na fome, de uma das feiras mais antigas da ilha. O próximo conto é o mais leve de todos, Diastema, ou paquera em tempos de pandemia. O penúltimo é Fogo na carne, uma história que queima na alma. Para encerrar, Autobiografia de um jardineiro (transcrita por uma flor), memórias ludovicenses de um professor de biologia, nos lembrando que este tempo é, afinal, asfixiante. Aqui está a escrita seca e cortante de Dalva de Palmar Brasil, acompanhada de seus próprios clicks da cidade. É o quarto número da coleção Livrinho também é Livro, organizado pela Editora Passagens. Download no link abaixo

Olhos Famintos & outros contos

terça-feira, 4 de maio de 2021

Literatura – Perspectivas Críticas


 Literatura – Perspectivas Críticas é uma publicação que contempla as produções acadêmicas da turma 9 do Mestrado Acadêmico em Letras da  Universidade Estadual do Piauí. Os trabalhos pertencem à Área de Concentração: Literatura, Memória e Cultura, abrangendo as duas linhas de pesquisas: Literatura e outros Sistemas Semióticos e Literatura, Historiografia e Memória Cultural. Obra realizada durante a pandemia da COVID 19, está dividida em dois eixos, a Poesia e a Prosa, contendo 13 ensaios escritos pela turma sobre crítica literária. A primeira parte compreende seis ensaios, que versam desde a prosa poética de Décio Pignatari, atravessando Ondjaki, Ferreira Gullar, Noémia de Sousa, Mário Quintana até a sonoridade poética dos Engenheiros do Hawaii. No segundo eixo, sete ensaios, que alcançam a prosa distópica de José J. Veiga e a militância das negras e mulheres Djaimilia Pereira de Almeida e Carolina de Jesus, além de uma reflexão sobre literatura e memória, através da chilena Isabel Allende. Discute ainda a prosa denunciadora de Lima Barreto, a narrativa do piauiense O.G. Rego de Carvalho e revisita a importância das funções do espaço ficcional no texto literário narrativo. Todas as análises estão envolvidas, direta ou indiretamente, com o trabalho de dissertação de cada um dos autores. A edição traz um diferencial no projeto gráfico, apostando na utilização das imagens para aprofundar a compreensão dos textos, e conta com prefácio da professora Algemira Mendes de Macêdo. Este é o nono livro da Editora Passagens.

 download gratuito no link abaixo:



domingo, 26 de julho de 2020

Transas da Contracultura Brasileira


Transas da Contracultura Brasileira é fruto do encontro de duas pesquisadoras fissuradas na efervescência cultural dos anos 60 e 70. Tempos de explosão criativa, transformações comportamentais profundas e também de muita repressão política. Reunindo vasto material, que alinha entrevistas e depoimentos de personagens expressivas daqueles anos loucos com textos de pesquisa, o livro transita por espaços variados, do Rio de Janeiro, epicentro local do furacão, às suas manifestações e ecos em terras fora do eixo principal, como São Luís, Teresina e Londrina. Passeia por nomes da literatura, do jornalismo alternativo, da música, das artes cênicas e do audiovisual, quase sempre mais próximos do lado B, das franjas experimentais, numa linguagem direta, sem os volteios teóricos tão comuns ao academicismo insosso. E vem à tona turbinado pela elaborada concepção gráfica que sustenta todo o projeto, num show de visualidades capaz de provocar verdadeira imersão no universo de cores, estilos e sensações que convulsionaram nossa cena cultural em sinergia com o que rolava em outros pontos da ebulição planetária, produzindo corpos rebeldes e mentes insanas. Uma publicação vigorosa da editora Passagens no formato e-book, disponível para download gratuito, que celebra toda atualidade e urgência da insubordinação cultural. Veja, leia, curta, passe adiante.


Flávio Reis

Link para download abaixo:


terça-feira, 16 de junho de 2020

BOI

BOI reúne poemas e letras de música que o poeta Celso Borges escreveu, principalmente, nos últimos dez anos. Obra tem o projeto gráfico de Isis Rost e faz parte da coleção Livrinho também é livro, da editora Passagens.

O poeta e letrista Celso Borges homenageia o boi do Maranhão no primeiro ano em que essa manifestação não estará nas ruas e arraiais da cidade, por causa da pandemia do corona vírus.

“Este livrinho nasce dessa não voz, ou da poesia dessa voz na memória, ou do afeto que vislumbro a partir da falta do boi e suas zoadas essenciais”, afirma o escritor que tem ligação com o bumba-meu-boi desde criança, quando via e ouvia os grupos se apresentarem em frente à sua casa, no Largo de São João, centro da cidade.



Download abaixo:
BOI


domingo, 17 de maio de 2020

O Declínio da Narrativa


Observação concisa acerca de um texto clássico de Walter Benjamin, O Narrador (1936), enfatizando como o cotidiano de choques sensoriais vivenciado nas grandes cidades do mundo moderno transforma a experiência coletiva e tem impactos sobre a memória e as formas de narrar, estabelecendo o predomínio da informação. Ilustrado principalmente através de pintores impressionistas, os primeiros a representarem a fugacidade da experiência na metrópole, é mais um volume da coleção Livrinho também é Livro, da Editora Passagens. Disponível para download gratuito no link abaixo.
O DECLÍNIO DA NARRATIVA

domingo, 3 de maio de 2020

Rua Morta


Rua Morta, de Luís Inácio Oliveira, inaugura a coleção Livrinho também é livro, com poema inspirado numa fotografia antiga de rua do centro de São Luís. 

Livrinho também é livro – coleção da editora Passagens, coordenada por Isis Rost e Celso Borges, voltada para edição de poemas, contos ou pequenos ensaios, disponibilizados gratuitamente em formato e-book, com tiragem impressa limitada.

Confira!  

  Link para Download:
RUA MORTA


sábado, 25 de abril de 2020

BREU - Ensaios Poéticos





Pequenas reflexões poéticas 
escritos entre 2006 e 2013. 

A peculiaridade da edição foi a mistura de obras de arte aos ensaios, provocando interpretações polissêmicas no leitor. 


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Breu

terça-feira, 24 de março de 2020

CENAS MARGINAIS

O que são estes textos? Difícil precisar. Sua principal característica é o uso de falas e cenas retiradas de vários filmes. O autor ou "colador" utiliza a reciclagem e a simulação para criar zonas de indiferenciação entre recriação e cópia, análise e deturpação. O pensamento encampa o efeito estético, sempre próximo ao ritmo e a forma dos filmes, à procura de outros ângulos interpretativos, misturando informações para configurar uma série de Cenas Marginais, cujo pano de fundo eram os sinais do desmanche da formação nacional. A virulência iconoclasta de Glauber Rocha, Rogério Sganzerla e Júlio Bressane captada numa combinação de fragmentos. Um convite a rever momentos importantes do cinema experimental e do cinema de poesia brasileiros, toda a sua atualidade temática e liberdade estética. Agressividade, ironia e muita colagem. O delírio em imagens óbvias. Bom apetite, o lance é esse! 

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CENAS MARGINAIS


quinta-feira, 16 de janeiro de 2020

NAVILOUCA

Revista Navilouca 

Percebemos que a Navilouca que circulava na web está com várias páginas faltando, então montamos este arquivo com todas as páginas fotografadas e na ordem correta. 
Todas as fotos estão em alta resolução. 

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quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

Penúltima Página


"Lendo esta série de entrevistas do Vias de Fato, com personagens já tão familiares (Gildomar Marinho, Bruno Azevêdo, Celso Borges, Ricarte Almeida), noto que o amálgama comum a todos eles e a todas as interlocuções é na verdade a ponte cultural que interliga tudo: a curiosidade insaciável de Zema Ribeiro.

Do choro à literatura, do teatro ao boi, da arqueologia cultural à agitação geracional, dos cancionistas aos samurais da edição independente, esgrimindo doses precisas de rigor e senso dionisíaco, os textos nos levam ao bar e à academia, ao terreiro e aos velhos cinemas Éden e Roxy, aos becos e às festas de reggae.
Principalmente, as entrevistas remontam um cenário cultural e social que se mostra imprescindível para compreender a parabolicamará que move o Maranhão, sua antena particular de compreensão do universo pelo filtro da poesia, da linguagem. As políticas da perseverança e da honestidade intelectual permeiam tudo, da compreensão profunda de Ricarte (“As pessoas vivem e morrem à míngua”) à visão cósmica de Celso Borges, leitor de coisas intangíveis, como a revista Coyote.
Haicais e boutades escorrem desses saborosos textos. “Eu não conserto versos por conveniência”, decreta Gildomar Marinho. É uma complexa teia de análise, mas, por um motivo de puro mistério, não é possível, na leitura dos textos, dissociar política de música, literatura de combate, visionarismo de consciência.
Leia e seja mais um destrambelhado conosco."

Jotabê Medeiros

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Penúltima Página

domingo, 7 de abril de 2019

O Risco do Berro - Torquato, neto Morte e Loucura

"O Risco do Berro é voo rasante sobre a vida e a obra de um nome central da contracultura. O piauiense Torquato Neto foi um dos ícones da Tropicália e da cultura marginal forjadas nos anos de chumbo, o momento mais duro e repressivo da Ditadura Militar.
Com muita inventividade, sacação e ironia, Isis Rost encarna a figura múltipla de Torquato, através de suas falas, escritos e imagens, para oferecer uma visão multifacetada do artista. Destacando dois signos fortes do momento, a morte e a loucura, mostra como estavam inscritas na trajetória de Torquato para além das determinações do período.

Colada no ideal contracultural, da transgressão, Isis fere os cânones consagrados, flerta abertamente com as apropriações e colagens, tão presentes no período, para montar seu painel com obsessiva pesquisa iconográfica e ousada diagramação, intuitivamente inspirada na Navilouca, a lendária revista em edição única programada por Torquato e Waly Salomão.


Tudo isso propicia um mergulho no universo dos “anos loucos”, de 67 a 72, quando o poeta, letrista, crítico de cultura e entusiasta de primeira hora do cinema marginal e do desbunde, consuma a própria sina, cuidadosamente tecida em versos, prosa e imagens. Berro ensandecido para saudar a figura indomável de Torquato, o livro é uma lufada de criatividade a desafi(n)aro bom mocismo acadêmico destes tempos tão obtusos.”


Flávio Reis



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sábado, 6 de abril de 2019

RUMINAÇÕES: Cultura e Política

Ruminações é uma coletânea de artigos sobre cultura e política escritos entre 2013 e 2016, quase todos publicados no jornal Vias de Fato. De certa forma, é uma continuação de Guerrilhas, livro de artigos publicado em 2012.

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RUMINAÇÕES: Cultura e Política

Tom Zé - VAIA DE BEBO não vale!

Tom Zé é um capítulo especial quase extraído dos anais da música popular brasileira. Autor inventivo, afeito a experimentos sonoros, prolífico e extremamente irreverente, foi “enterrado vivo”, como ele mesmo diz, após a explosão do tropicalismo, na virada para os anos 70.
(...)
O livro que você tem em mãos é resultado de um olhar sobre um determinado momento da cultura brasileira e seus desdobramentos ocorridos nas entranhas do tropicalismo musical, levando cada um dos seus integrantes a seguir caminhos distintos em suas trajetórias artísticas e nas relações com o mercado da indústria fonográfica. 

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